domingo, 26 de abril de 2015

Fábula Orwelliana * Antonio Cabral Filho - Rj

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FÁBULA ORWELLIANA

DURANTE A MINHA INFÂNCIA, VIVI NA ROÇA. E, NÃO SEI SE VOCÊ SABE,  MAS NA ROÇA HÁ O COSTUME DE NÃO SE CONSTRUIR O BANHEIRO DENTRO DA RESIDÊNCIA. OU SEJA, ERGUE-SE UM CÔMODO A UMA CERTA DISTÂNCIA DA CASA, E AÍ FURA-SE UM BURACO NO CANTO PARA DEFECAR E ESVAZIAR O PINICO AO AMANHECER, TOMAR BANHO E GUARDAR AQUELA ROUPA DE TRABALHO A SER USADA NO DIA SEGUINTE.

OCORRE QUE AS CRIANÇAS, GERALMENTE, EVITAM A "CASINHA" DEVIDO À CATINGA E VÃO CAGAR NO MATO. COMO NA MAIORIA DAS CASAS  CRIAM-SE PORCOS SOLTOS, ELES SE HABITUAM A COMER AS FEZES HUMANAS, E PERCEBEM, COM MUITA PERÍCIA, AONDE TEM UM CAGÃO ATRÁS DA MOITA, DANDO, LOGO-LOGO, UM FIM À PAZ DO COITADO, QUE É OBRIGADO A SAIR CORRENDO PARA EVITAR A VORACIDADE DO PORCO POR MERDA.

QUANDO O PORCO SE SATISFAZ COM A TITICA ENCONTRADA, ÓTIMO. MAS NA MAIORIA DAS VEZES, O PORCO QUER MAIS MERDA.  NESSES CASOS, O SUJEITO TEM QUE SE LAVAR PARA TIRAR O CHEIRO QUE O IDENTIFICA PARA O PORCO.

DURANTE A MINHA VIDA TENHO OBSERVADO NOS AMBIENTES QUE FREQUENTO QUE AS CARACTERÍSTICAS DAQUELES PORCOS DA MINHA INFÂNCIA FAZEM PARTE DA PERSONALIDADE DE CERTO TIPO DE PESSOAS. GERALMENTE, ELAS TRABALHAM EM FUNÇÕES DE CONTROLE, CHEFIA, SEGURANÇA ETC, E PERCEBO,  COM CERTA TRISTEZA, QUE UMA DAS CARACTERÍSTICAS MARCANTES DO SER HUMANO, É FAZER MERDA, OU SEJA, SAIR DA LINHA...

QUANDO PERCEBO ALGUÉM EM VIAS DE COMETER UM "DESLIZE" QUE VAI PROVOCAR A "REPRESSÃO" DOS, DIGAMOS ASSIM , SUPERIORES, EU ME APRESSO EM ABORDÁ-LO E EXPOR-LHE ESSE FATO DA MINHA INFÂNCIA, SEMPRE RESSALTANDO: " NÃO DÊ MOLE PARA OS PORCOS PORQUE ELES ADORAM MERDA!"
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domingo, 19 de abril de 2015

Máfia Dos Velhinhos - Antonio Cabral Filho - Rj

(internet)
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  MÁFIA DOS VELHINHOS

ERA MUITO ENGRAÇADA A CONVERSA DOS VELHINHOS. ELES SE ACHAVAM O MÁXIMO POR FAZER PARTE DA CORRUÇÃO. DEBOCHAVAM DO GOVERNO PELO SEU SOFRIMENTO COM O FOGO-CERRADO DA IMPRENSA. "OLHA A CARA DA "DIMINHA!"" E RIAM, RIAM À BALDE. MESMO QUEM NÃO TIVESSE INTERESSE NO ASSUNTO, NÃO TINHA COMO FICAR INDIFERENTE, POIS OS DANADOS RIAM, RIAM HILARIAMENTE DAS DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO QUE A OPOSIÇÃO LANÇAVA CONTRA O GOVERNO, ENQUANTO AGUARDAVAM PARA SACAR.

MAS AS RAZÕES DE SUAS IRONIAS ERA O FATO DE SEREM APOSENTADOS E AINDA INTEGRAREM A FOLHA DE PESSOAL DOS SEUS PARLAMENTARES, TODOS DA OPOSIÇÃO, E RIEM, CADA VEZ MAIS HILARIAMENTE COM OS "RETRUQUES" DOS POBRES DEPUTADOS DO GOVERNO, UMA VEZ QUE, AGORA, FRISAVAM OS "PÉ-NA-COVA", ERA A VEZ DELES SEREM "VIDRAÇA".

A COISA FICOU AINDA MELHOR QUANDO UM DELES PERGUNTOU AO OUTRO SE SUA NETA MAIS NOVA JÁ COMPLETARA MAIOR IDADE, RESSALTANDO QUE NÃO TOLERAVA DESEMPREGO, NEM NA SUA FAMÍLIA NEM NA DOS AMIGOS, E QUE, SE NECESSÁRIO, ERA SÓ COLOCÁ-LA NA FOLHA  DO SEU PARLAMENTAR E ESTARIA "TUDO CERTO."

AÍ O INTERESSE CRESCEU. CARAS-ESTUPEFATAS SE APROXIMARAM QUERENDO SABER "COMO ERA ISSO"; QUEIXOS-CAÍDOS AMPARADOS NA PALMA DA MÃO BALBUCIANDO SONS ININTELIGÍVEIS JUNTAVAM-SE À REUNIÃO DE ATÔNITOS; FOI QUANDO O CIDADÃO À FRENTE DELES PERGUNTOU SE NÃO ERA CRIME DE "NEPU...NÃO-O-QUÊ" EMPREGAR PARENTE NA ASSESSORIA DO POLÍTICO. NESSE MOMENTO, O MAIS ESPRUVITADO DELES RESPONDEU, CALMAMENTE, "É SÓ TROCAR; EU EMPREGO O SEU E VOCÊ EMPREGA O MEU;SIMPLES!" E ENTREGOU-LHE UM CARTÃOZINHO COLOCANDO-SE À DISPOSIÇÃO, O QUE FEZ COM TODOS OS "PRÓXIMOS", FRISANDO QUE O "DOTÔ"PUREZA JAMAIS PERDERA MANDATO PORQUE TRABALHAVA PARA O "POUVO!" E MOSTROU-LHE NO VERSO DO MESMO CARTÃO O CONTATO COM O "DOTÔ" BOQUINHA, OUTRO, SEGUNDO O MESMO, QUE ERA UM HOMEM DEDICADO À "COUSA PÔUBLICA! ÔME DE BEM!", FINALIZOU.

MAS ATRÁS DO DITO CARTÃOZINHO TINHA ALGO MUITO "ENGRAÇADO", PELO  MENOS POR SE TRATAR DE  DOIS "VELHINHOS" QUE ESTAVAM DISTRIBUINDO. É O TEXTO QUE SE SEGUE:
 "PRECE DO IDOSO:
                                                      QUANDO A GENTE ENVELHECE,
                                                      QUANDO A COISA TRISTE ACONTECE,
                                                      O CABELO EMBRANQUECE,
                                                      A SOMBRANCELHA CRESCE,
                                                      O ROSTO ENRUGUECE,
                                                      O DENTE APODRECE,
                                                      A VISTA ESCURECE,
                                                      O REUMATISMO APARECE,
                                                      A PERNA NÃO OBEDECE,
                                                      A BARRIGA CRESCE,
                                                      O SACO DESCE,
                                                      O MEMBRO ESFALECE,
                                                      O TESÃO DESAPARECE,
                                                      A MULHER OFERECE,
                                                      A GENTE AGRADECE
                                                      E DIZ: AH! SE EU PUDESSE...
                                                      MAS JÁ ESTOU NO INPS
                                                      COM O ROSÁRIO NA MÃO
                                                      FAZENDO PRECE..."

AOS TRÊS VEIO JUNTAR-SE UMA SENHORA ESBELTA, CABELOS BRANCOS COMO ALGODÃO, PRESOS EM "COQUE", USANDO ÓCULOS "PINCINÊ" E APOIADA EM MULETAS "CASTOADAS" DE DOURADO, TRANJANDO LONGO VESTIDO DE SEDA COLORIDA, TODO DECORADO COM AQUELES BICHOS SAGRADOS LÁ DA ÍNDIA, OBSERVANDO SECAMENTE QUE " SE NÃO PODEMOS REVISAR A APOSENTADORIA DEVIDO AO ÍNDICE DE REAJUSTE SER INFERIOR AO DO SALÁRIO MÍNIMO, ENTÃO A SAÍDA É UM PARENTE NA POLÍTICA QUE NOS PONHA NA FOLHA DE PAGAMENTO, SENÃO MORREMOS À MÍNGUA!", ARREMATOU E FOI PAR O CAIXA.

BOM, DEPOIS DESSE CHÁ DE FILA ADOÇADO COM NEPOTISMO À MODA ANTIGA, FIZ MEU SAQUE E VOU-ME EMBORA; TCHAU!
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domingo, 12 de abril de 2015

Terra De Posse * Antonio Cabral Filho - RJ


Nasci em 14 de agosto de 1953, no povoado de Jampruca, então Distrito do Município de Frei Inocêncio, Estado de Minas Gerais. O local era uma carvoaria. Meus pais e demais familiares, parte formada por Nativos e parte brancos, portugueses e italianos, sobreviviam disso. Na época, anos 50, haviam na região conflitos agrários envolvendo os dois lados da família, dividida entre "grileiros" e população Nativa, na disputa pelas terras, muito férteis naquela região do leste mineiro, pelo menos àquele período. 

Não tenho lembranças precisas das ocorrências sobre os embates dos quais meu pai participava, mas lembro-me, muito bem, de sairmos no meio de uma noite, montados em burros, seguindo por uma estrada de rodagem, às vezes quase esmagados porcarretas carregadas de toras de madeira, que passavam por nós tocando suas buzinas e nos intoxicando com a nuvem de poeira vermelha que levantavam.  

Viajamos até ao anoitecer, quando chegamos em um local, que muito tempo depois, eu fiquei sabendo chamava-se Colatina. Estávamos no Estado do Espírito Santo. Hospedamos na casa da Vovó Olinda, à beira de um rio imenso, muito perigoso, devido à forte correnteza de suas águas. Era o Rio Doce, na sua parte Capixaba, contou-me meu Avô, enquanto pescávamos, sentados em uma pinguela que cruzava o rio.

Daí, da casa dos meu avós paternos, fomos morar no meio de um cafezal, numa localidade chamada Laranjinha. Aí, nasceu e morreu meu irmão José Maria, que não resistiu à inanição. Logo depois, meu pai conseguiu uma "Terra de Posse", para onde nos transferimos. Moramos em redes não sei quanto tempo, mas construimos uma belacasa de alvenaria, no meio da floresta, com tijolos feitos e queimados por nós, pois a terra vermelha é ótima para cerâmicas em geral.

Não demorou e apareceu proposta de compra da "nossa propriedade", como se dizia na ocasião; e meu pai não pensou duas vezes, inclusive por temor à "grilagem". Pegou aquele dinheirinho e partimos de volta para o Frei Inocêncio-MG, aonde um tio meu era gerente de fazenda e nos alojou como agregados, até meu pai conseguir comprar uma nova terra. 

Mais do que rápido, meu pai adquiriu um sítio na alto da Serra do Paiol, local com vistas para toda a região, de onde eu e meu segundo irmão José Maria da Penha, nos setávamos no topo da Pedra do Urubu, ponto mais alto de toda aquela redondeza, e ficávamos contando carros; carros de passeio eram dele e carros de carga eram meus. Como na futura Rodovia Rio-Bahia não passavam carros de passeio, eu ganhava sempre !

É daí que vem a minha atração pelas cidades grandes, porque eu era louco para saber aonde iam tantos carros, tantas carretas, safras e mais safras de arroz, feijão, milho, abóbora, mamão, cana, porcos, galinhas, gaiolas cheias de bois...

MEU LINK NO AVAAZ
http://www.avaaz.org/po/20mm_story_page/?tQouicb&story_id=2824
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domingo, 5 de abril de 2015

Crônica Do Treze / Caçuá De Crônicas Do Suaçui * Antonio Cabral Filho - Rj

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(botefee.blogspot.com)

CRÔNICA DO TREZE
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Treze é número diabólico,
não há mesmo quem o negue,
mas todo bruxo procura
um diabo que os carregue.
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Dizem que astrologicamente é neutro, mas o azar campeia na sexta-feira treze!
Particularmente, 
não tenho superstição, mas creio no seu parentesco com as bruxas: que ambas existem, existem.
Por exemplo, as letras A e C , iniciais dos nomes meu e de meu pai, serem usadas como marca gravadas nos animais, não seria espiritualmente correto, por lembrarem " Anti Cristo".
Porém, lhe sugeriram convertê-las em números, e, desde então o 13 virou seu patuá.
Era treze no cordão, no anel, na fivela do cinto, nas camisas do Cruzeiro, nos bonés etc. 
Mas tinham também os treze especiais, como na porteira da fazenda, para espantar olho-grande; nas portas de nossa casa contra todo tipo de mal; na coronha do rifle para dar sorte nas caçadas; até descobrir que seu nome, Antonio Cabral, tinha treze letras. Passou a gostar tanto do número treze que registrou-me como nascido no dia treze, mesmo sabendo que foi no dia 14.
Meu pai não gostava de nada preto. Nada. Nem cachorro, nem gato, nem galo e muito menos cavalo, devido à ideia de que o cavalo banco é que atraía fluídos positivos e por ser a cor do cavalo de São Jorge. 
Mas, certa vez, catirando ali pelas imediações da Usiminas, viu um potrinho preto retinto com uma lua branca bem no meio da testa tão bonito, mas tão bonito, que ficou fascindo com ele e comprou-o. No primeiro dia treze seguinte, marcou-o com o treze bem na testa, bem no meio da lua branca. Foi o mais lindo cavalo árabe já visto no Vale do Aço mineiro.
Papai dizia que ninguém roubava nosso gado nem nossos animais graças ao treze da marca, devido à superstição.

Certo ou não, quem sou eu pra discutir o assunto... Mas que é verdade é, ninguém roubava nossos bichos.
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